terça-feira, 20 de maio de 2014

Pintando mais um quadro

veja-se no escuro vermelho, olho surdo de medo,
fundo bruto branco no preto, por mais milhares
de olhares surdos e negros, bordas profundas,
profecias profanas, damas obscuras,
e gamas obsoletas.

perdido no atrito do atraso,
atrasado na perdição do carrasco
sendo nu, preso no asfalto,
veja-se crú, veja-se embriagado
belo sombrio, luz do sol, foi se abril...

veja-se num trem partindo da estação,
de repente todos se veem, como um trem
saindo do suburbano,
sendo transferidos ao terminal que chamamos
de aberração ambulante
sendo de repente, chamado acidentalmente
de ser humano.

modelo de arte artificial, seja negro, seja marginal,
seja preto, seja superficial, seja humor negro, seja existencial.
piadas sobre filosofia, crianças morrendo na covardia
bebidas no beco, fornadas de orgia,
pãezinhos bem frescos, tempero da covardia,
sentia cheiro de favela, agora sinto cheiro de burguesia.

coloridas, as crianças tomam ácido, um cartoon a mais
para um ser de menos, um reacionário eu?
aprisionado, meu? revolucionário crê em eu?
sou as flores do ônibus
sou eu, um bobo digitando dígitos num digitalismo
a digitalizar mais um minuto de digitação das diretas
ideias bobas do mundo digital.

um realista só sabe andar, "um criminoso só sabe matar",
um ativista só sabe protestar, um receioso só sabe freiar,
um romantico só sabe chorar, um partido só sabe vender,
um microfone só sabe gritar, um sonhador só sabe cair.

um momento pede, um segundo se foi, uma virgula separa,
já foi-se outra dor.
Passa como se fossem carros no interior, devagar e calmos
como só sabe a dor,
passa como as estrelas, paradas mas calam-se com o olhar.

grite de olhos fechados, não clama pelo inflamar,
sendo fogo do espaço, sendo terra sem ar.
perco fôlego a te olhar,
seja você quem for, que esteja a me esperar

se perca no corredor, escorrega nas cores,
viaje em olhares, mude olhares,
faça filhos em todos os lugares.
veja o mar, de ondas leves e vulgares

chego até rimar! veja só! só que com olhos
coloridos de novos adesivos, novos
abrigos de meu castigo, sou eu quem sou,
não preciso mais ser meu, ser amigo.
não sei fazer sentido, o que sei fazer?


agora faz sentido.