terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Life of Pi (Ang Lee, 2012)


A Vida de Pi começa sublime, cheia de graça e inocência, na sua infância já ganha suas primeiras cicatrizes, na adolescência, o amadurecimento de um menino que tem a força de um Tigre.

Ang Lee traz ao mundo uma obra existencialista com bela pintura, e Piscine Molitor, (Suraj Sharma) nos hipnotiza com mais eficiência que muitos astros de Hollywood. A Adaptação do livro Life of Pi (do canadense Yann Martel) para o cinema  foca apenas em Pi, deixando de lado a parte do Escritor (Rafe Spall), mesmo assim gera um bom ritmo, ao melhor estilo "Forrest Gump indiano".

Na trama, o escritor perdido em suas ideias, procura pela história certa que o elevará. Seu encontro com o sábio Piscine, outrora rebelde e imaturo, no filme é considerado um encontro com o destino, dando a impressão que o escritor no filme é na verdade Yann Martel. Deste encontro, o escritor é intrigado a escutar a história da vida de Pi, a história que o fará crer em Deus.

No Primeiro momento da história contada por Piscine, encontramos um menino no melhor lugar para se viver da Índia, a Riviera Indiana. É filho do dono do Zoológico da cidade, este, um pai dedicado e exigente, acima de tudo um homem racional, oposto da mãe, uma jardineira religiosa. Pi Patel (assim apelidado pelo "bullyng" sofrido na escola), lida apenas com sua vida adolescente, suas dúvidas pessoais, e seus amores. E os animais do zoológico lhe interessam muito, sensibilizado com eles, diferente do pai. 

O que mais alimenta a ideia no principio, é o interesse de Pi pelo sentido maior da vida. A Religião o guia, incentivado por sua mãe a um caminho que nem ele mesmo sabe onde vai chegar, porém se torna seu conforto, e também o gancho para impulsionar as questões filosóficas do filme, o atrativo principal.

Esta primeira parte do filme, um sofisticado e leve toque cômico acrescentado à obra, com toda a fantasia criada em Pi, e demonstrada a nós, é de encher os olhos. A onda que nos leva de um lado a outro, trilha sonora de Mychael Danna, é um deleite, capaz de sensibilizar até aos mais brutos. Todo esse sublime momento aponta para a tempestade que se aproxima, a Índia sofre em sua economia e o Zoológico será vendido, a familia de Pi se vê obrigada a ir embora do País, viajar pelo oceano em busca de vida nova no continente americano. 

A virada; a destruição de toda a segurança; a estrutura de Pi desaba por completo ao perder tudo quando o Navio Japonês afunda, e Pi é lançado sozinho ao oceano Pacifico. Ele se vê num bote com suprimentos para sua sobrevivência, e animais, "A Arca de Pi", uma menção a Noé, quanto a existência de Deus e a luta do bem e do mal é somente mais uma das referências que o filme traz, onde todo e qualquer objeto carrega consigo um significado além de sua razão própria, aprofundando ainda mais o filme em suas camadas.
  
Richard Parker, introduzido no começo do filme, num intrigante primeiro encontro com Pi, aparece em sua arca, e se torna seu único companheiro a bordo. O Tigre de Bengala desafia Pi a viver e com isso mostra a capacidade dos efeitos visuais atuais, um tigre que em quase todo o filme é animado por computador, nos emociona com olhares penetrantes que o pai de Pi explica "Somente nossos próprios olhos refletidos de volta para nós", isso não só mensura a personagem e sua teimosa razão, como também é mais uma metalinguagem para nos mostrar o Existencialismo, teoria que o público propaga como o filme abordando a fé.

O Filme em si não evidencia a fé de Pi, e sim sua vontade de existir através de seu tigre, presenciando verdadeiros milagres (digitais), também sobrevivendo e entendendo Richard Parker. No Existencialismo, não há algo além da nossa existência, é a própria que deve ser evidenciada, “Fazer-se a sí mesmo”, e seria este o grande significado da vida, exemplificado em vários momentos do filme, inclusive em seu derradeiro, com toda sua paixão.

As aventuras de Pi aplica uma filosofia profunda, ao motivo de existir, aos desafios da vida, e especialmente a crença das pessoas, não se trai ao ponto de definir, mas acredita no que diz, com muita propriedade. Todo o simbolismo do filme o torna grande a ponto de exigir concentração a cenas que em primeiro plano parecem ser comuns, e seu ritmo que pode ser  confundido com cansativo, exige sua atenção, e em troca dá um belo espetáculo em imagens e conceitos.

Um Filme com muitos pontos bem explorados e por isso acumulou indicações ao Oscar® de 2013 (11 no total), sua edição um tanto inovadora e leve, a fotografia de derreter os olhos, a já citada trilha sonora, a profundidade do roteiro de David Magee  e a compreensão total de Ang Lee e sua direção certa no tom e significado do filme. A Viagem pelas águas da vida, a disputa pela sobrevivência, a conquista do território e a profunda questão sobre uma das maiores e mais antigas questões da humanidade, "Por que existo?", tudo eleva o filme  á uma extrema reflexão sobre o sentido da vida. E Se há dúvida por parte do escritor em saber qual história será a verdadeira, isso evidencia que na verdade este representa mais a plateia emocionada que o racional e brilhante autor de Life of Pi.