A Vida de Pi começa sublime,
cheia de graça e inocência, na sua infância já ganha suas primeiras cicatrizes,
na adolescência, o amadurecimento de um menino que tem a força de um Tigre.
Ang Lee traz ao mundo uma obra
existencialista com bela pintura, e Piscine Molitor, (Suraj Sharma) nos
hipnotiza com mais eficiência que muitos astros de Hollywood. A Adaptação do
livro Life of Pi (do
canadense Yann Martel) para
o cinema foca apenas em Pi, deixando de lado a parte do Escritor (Rafe
Spall), mesmo assim gera um bom ritmo, ao melhor estilo "Forrest Gump
indiano".
Na trama, o escritor perdido em
suas ideias, procura pela história certa que o elevará. Seu encontro com o
sábio Piscine, outrora rebelde e imaturo, no filme é considerado um encontro
com o destino, dando a impressão que o escritor no filme é na verdade Yann
Martel. Deste encontro, o escritor é intrigado a escutar a história da vida de
Pi, a história que o fará crer em Deus.
No Primeiro momento da história
contada por Piscine, encontramos um menino no melhor lugar para se viver da Índia,
a Riviera Indiana. É filho do dono do Zoológico da cidade, este, um pai
dedicado e exigente, acima de tudo um homem racional, oposto da mãe, uma
jardineira religiosa. Pi Patel (assim apelidado pelo "bullyng"
sofrido na escola), lida apenas com sua vida adolescente, suas dúvidas
pessoais, e seus amores. E os animais do zoológico lhe interessam muito,
sensibilizado com eles, diferente do pai.
O que mais alimenta a ideia no
principio, é o interesse de Pi pelo sentido maior da vida. A Religião o guia,
incentivado por sua mãe a um caminho que nem ele mesmo sabe onde vai
chegar, porém se torna seu conforto, e também o gancho para impulsionar as questões
filosóficas do filme, o atrativo principal.
Esta primeira parte do filme, um
sofisticado e leve toque cômico acrescentado à obra, com toda a fantasia criada
em Pi, e demonstrada a nós, é de encher os olhos. A onda que nos leva de um
lado a outro, trilha sonora de Mychael Danna, é um deleite, capaz de
sensibilizar até aos mais brutos. Todo esse sublime momento aponta para a
tempestade que se aproxima, a Índia sofre em sua economia e o Zoológico
será vendido, a familia de Pi se vê obrigada a ir embora do País, viajar pelo
oceano em busca de vida nova no continente americano.
A virada; a destruição de toda a
segurança; a estrutura de Pi desaba por completo ao perder tudo quando o Navio
Japonês afunda, e Pi é lançado sozinho ao oceano Pacifico. Ele se vê num bote
com suprimentos para sua sobrevivência, e animais, "A Arca de Pi",
uma menção a Noé, quanto a existência de Deus e a luta do bem e do mal é
somente mais uma das referências que o filme traz, onde todo e qualquer objeto
carrega consigo um significado além de sua razão própria, aprofundando ainda
mais o filme em suas camadas.
Richard Parker, introduzido no
começo do filme, num intrigante primeiro encontro com Pi, aparece em sua arca,
e se torna seu único companheiro a bordo. O Tigre de Bengala desafia Pi a viver
e com isso mostra a capacidade dos efeitos visuais atuais, um tigre que em
quase todo o filme é animado por computador, nos emociona com olhares
penetrantes que o pai de Pi explica "Somente nossos próprios olhos
refletidos de volta para nós", isso não só mensura a personagem e sua
teimosa razão, como também é mais uma metalinguagem para nos mostrar o
Existencialismo, teoria que o público propaga como o filme abordando a fé.
O Filme em si não
evidencia a fé de Pi, e sim sua vontade de existir através de seu
tigre, presenciando verdadeiros milagres (digitais), também
sobrevivendo e entendendo Richard Parker. No Existencialismo, não há algo além
da nossa existência, é a própria que deve ser evidenciada, “Fazer-se a sí
mesmo”, e seria este o grande significado da vida, exemplificado
em vários momentos do filme, inclusive em seu derradeiro, com toda
sua paixão.
As aventuras de Pi aplica uma
filosofia profunda, ao motivo de existir, aos desafios da vida, e especialmente
a crença das pessoas, não se trai ao ponto de definir, mas acredita no que diz,
com muita propriedade. Todo o simbolismo do filme o torna grande a ponto de
exigir concentração a cenas que em primeiro plano parecem ser comuns, e seu
ritmo que pode ser confundido com
cansativo, exige sua atenção, e em troca dá um belo espetáculo em imagens e
conceitos.
Um Filme com muitos pontos bem
explorados e por isso acumulou indicações ao Oscar® de 2013 (11 no total), sua
edição um tanto inovadora e leve, a fotografia de derreter os olhos, a já
citada trilha sonora, a profundidade do roteiro de David Magee e
a compreensão total de Ang Lee e sua direção certa no tom e significado do
filme. A Viagem pelas águas da vida, a disputa pela sobrevivência, a
conquista do território e a profunda questão sobre uma das maiores e mais
antigas questões da humanidade, "Por que existo?", tudo eleva o filme
á uma extrema reflexão sobre o sentido da vida. E Se há dúvida por parte
do escritor em saber qual história será a verdadeira, isso evidencia que na
verdade este representa mais a plateia emocionada que o racional e brilhante
autor de Life of Pi.